
A imagem da cidade
É possível separar os limites do lugar onde vivemos dos nossos próprios limites? O horizonte das nossas possibilidades, ou seja, do modo como percebemos o mundo e nele interferimos, está, de algum modo, contido na forma física do lugar onde habitamos.
A cidade é o suporte e o limite da nossa existência.
E quais são esses limites? Qual é a forma da cidade onde habitamos, e que está em constante transformação?
Segundo Gaston Bachelard, é através da imaginação criadora - construção de fábulas sobre a percepção do mundo real - que o homem conhece o lugar em que habita.
É sobre a tentativa de representar - e assim também inventá-la - a forma da sua cidade - lançando mão de um antendimento sensível, imaginário, que se concentra a obra da artista Cleiri Cardoso.
A matéria-prima de seu trabalho são recortes que recolhe na forma de desenhos e fotografia - aquilo que é possível identificar na imagem desordenada da cidade como elementos contitutivos da paisagem urbana. Depois, os recortes serão combinados entre si, utilizando o recurso da xilogravura, de sobreposição de camadas, para construir no papel ou na própria matriz uma forma nova, que conceda ordem e identidade para essa paisagem. Combinando e recombinando recortes, a artista é capaz não só de criar essa identidade, mas comunicar sua dinâmica e seu aspecto efêmero, em constante construção e destruição.
Em outro momento, a matriz não é mais usada para reprodução: ela assume sua forma construtiva, de objeto com peso e densidade, que parece mais apropriada para tratar das estruturas vazias dos edifícios em construção - outro elemento constante nesse cenário que a artista toma emprestado.
Desse modo Cleiri cria a imagem de sua cidade: recolhendo elementos gráficos e criando para eles uma história, um contexto, uma identidade sensível e aberta, em constante transformação, que é sua própria.
Cristina Paiva
22 de setembro de 2009
fotos cleiri cardoso